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Passeios por Paranapiacaba

Julho é um mês terrível. O ex-maquinista José Arnaldo de Farias, baiano de Senhor do Bonfim, chegou em julho de 1947 a Paranapiacaba e só foi descobrir que a vila tinha igreja 29 dias depois. "A cerração não deixava a gente nem vê a aba do chapéu" recorda ele, servindo mais uma cachaça a quem tem frio nessa manhã de julho de 1982. Lá se vão, trinta e cinco anos, mas a cerração continua firme. Às oito da manhã, no alto do morro onde fica o cemitério, a paisagem fica encharcada pela garoa gelada (…). Embaixo, o barulho dos trens enfrentnado a cremalheira incomoda a parte alta da vial que não acordou ainda. Paranapiacaba acorda tarde porque não há o que fazer, além do que fazem os homens da ferrovia. No bar do velho Manuel Maria Marques, o Maneco, 76 anos, um grupo de adultos assiste aos desenhos animados da tevê; quem passa toma café, conhaque ou fogo paulista, porque o frio zune nos ouvidos. Português de Coimbra, o seu Maneco, vive aqui desde o dia 3 de setembro de 1930, quando Paranapiacaba chamava-se Alto da Serra e o movimento era grande. A vila ferroviária que os ingleses haviam batizado de Vila Martin Smith tinha jardins floridos nos jardins dos quintais. Paranapiacaba era uma espécie de cidade-modelo."

Estação do Alto da Serra

A velha estação do Alto da Serra possuía um aspecto original. Sua torre que lembra o Big-Ben de Londres, era equipada com um relógio, cujos mostradores em algarismos romanos podiam ser vistos a longa distância. Além da função visual, o relógio da estação também desempenhava importante papel como referencial "sonoro", pois estava localizado em uma torre elevada.

A estação de trem foi o primeiro referencial da Vila. Desta forma, o trânsito local era obrigatório. Assim, pela sua localização central na Vila, possuía características bastante originais, tendo, à princípio, desempenhado as funções de um "ponto de encontro". Comenta Ferreira que: "o ponto principal de encontros para se tratar de um negócio, para se comentar sobre futebol, política ou outro assunto qualquer. Era muito comum, quando saíamos de casa, que alguém nos perguntasse aonde iríamos e a resposta era quase sempre: Vou até a Estação. As noites de sábado e domingo eram os dias de glória da Estação. Durante o dia, o movimento já aumentava, mas, à noite, era impressionate o movimento em suas dependências; plataformas bastante largas ofereciam espaço para um grande número de pessoas, mas, mesmo assim, em alguns momentos, havia dificuldades em encontrar-se espaços vazios."

Esta estação, que se caracterizava por uma esplêndida arquitetura de estilo vitoriano, tem projeto datado em fins do século passado e foi desenhada por engenheiros britânicos. Ela veio desmontada para ser construída aqui. A estação configurava um novo status para o quase acampamento de obras que constituía o então Alto da Serra.

A estação do Alto da Serra foi desativada em 1977 e já estava em processo de demolição, quando sobreveio um incêndio em janeiro de 1981 e, dela, só restou a torre do relógio que, restaurada, foi integrada à atual estação.

Passarela Metálica

A passarela metálica, construída em 1899 sobre o corredor ferroviário, onde se localizavam a estação, o pátio e todos os equipamentos, estabeleceu o única ligação existente entre os dois núcleos da cidade.

Clube União Lyra Serrano

O edifício do clube União Lyra Serrano, o "town hall" social do Alto da Serra, representando um dos mais antigos clubes de "football" do Estado foi fundado em 1903. Lembra Negrelli que: "havia a Sociedade Recreativa Lyra da Serra, onde aos domingos à noite havia uma sessão de cinema mudo, geralmente filme em série. No salão cada grupo de família tinha os seus lugares certos, tudo direitinho, e orquestra composta de músico locais, tocavam belas valsas e até peças clássicas, eram amadores, nada ganhavam, tocavam para agradar a todos, e abriam a sessão com uma marcha, para o filme natural. Nesta Sociedade também existia um salão para o jogo de bilhar, e nos fundos dois campos para bochas, e entre os habitantes havia verdadeiros craques (…)". A Sociedade Recreativa Lyra da Serra, hoje, União Lira Serrano, em razão da união feita com o Serrano Football Club, tem sede ampla com salões para cinema e bailes, jogos diversos e biblioteca e um campo de futebol. O campo de futebol, até hoje, ocupa local de destaque, dentro da Vila.

Em 1907, começaram as construções da sede atual que, em 1938, foi ampliada adquirindo a feição hoje existente: um grande edifício de dois andares, totalmente construído em madeira de lei, principalmente pinho-de-riga, importada da Inglaterra. Antigamente, ao final da escada de madeira, na porta de um camarote, poder-se-ia ler: Este reservado é de uso exclusivo dos senhores Mr. Alfred E. Whitton, Dr. Jorde A. Boeri, Arno L. M. da Veiga e respectivas famílias. Outrora, os degraus de todas as escadas internas recebiam tapetes de veludo.

 

Castelinho

Um dos mais importantes e controvertidos elementos da paisagem local. Trata-se de uma construção vitoriana, mesclando "Queen Anney style" com "shigle style" e, por essa razão, batizado de "castelinho". Ele servia como residência ao superintendente inglês, autoridade máxima da ferrovia e, portanto, da cidade. Foi construído em 1897 e seu projeto original foi concebido dentro do conjunto da tipologia das casas da Vila Martin Smith, sendo o único exemplar do "pacote" importado da Inglaterra como sendo do "typo C", conforme atestam as plantas da época. Situa-se entre a Vila Velha e a Vila Martin Smith, na mais elevada e estratégica colina local, no "baricentro" visual, de onde se pode avistar toda a movimentação da Vila Ferroviária. Caracteriza-se pelo aspecto simbólico de liderança, pois é de onde se visualiza todo o núcleo urbano, o pátio de manobras, a estação e as instalações das máquinas fixas do último patamar. Ele atrai as atenções de qualquer ponto da Vila, por sua situação elevada.

Mas isso acontece, também, com os quarteirões de casa que eram organizadas em termos de um claro sistema de aglomeração para facilitar a localização imediata de qualquer funcionário, que deveria estar sempre pronto a atender os superiores hierárquicos. Observa Marco Santos: "sendo, então uma forma da presença estática e simbólica do poder. Desta forma, a estrutura social e hierárquica dos trabalhadores da empresa refletem espacialmente na Vila, como sendo uma forma de distribuição e uma afirmação de vigilância e poder." Durante muitos anos, esta construção funcionou cmo residência de um bispo de Santo André e, depois, como escritório da ferrovia, abrigando, atualmente, um museu.

Edifício do Mercado

Essa construção interessante, recebeu uma atenção especial em seu projeto de 1899. Pela finalidade a que se destinava e por se tratar de um edifício não residencial e de uso comercial, comportava detalhes construtivos ligados a cuidados higiênicos e sanitaristas, tais como um sistema de ventilação cruzada através de óculo na entrada e de venezianas nas laterais. Nesse mercado, como conta Negrelli: "compartimentos em box onde funcionavam um açougue, um bar, a agência do correio, prém, do lado de for a existia um barracão com divisões, onde aos sábados vinham caipiras, traziam aves, ovos e frutas. Era uma espécie de feira-livre em miniatura."

Pau-da-Missa

O pau-da-missa constitui-se de um velho pé de cambuci, que possuía forte conotação simbólica, pois, como se tratava de uma árvore que se encontrava em local de passagem obrigatória para quem se dirigia à estação, tornou-se receptáculo de recados e avios. Recorda Ferreira que o "pau-da-missa era uma árvore muito importante para os moradores, pois de tronco grosso servia para a colocação de todos os tipos de avisos para a comunidade, em geral, avisos de funerais, missas, aniversários, casamentos, contra quem ia jogar o time de futebol e outros."

Paranapiacaba: a origem do nome

1907: a vila passa a se chamar Paranapiacaba

O termo vem da corruptela de pê-rá-ñái-piâ-quâba, que significa: "passagem do caminho do porto do mar", de pê (superfície) e rá (encrespada), formando a palavra pê-rá (mar); ñái (porto); piá (caminho); quâb (passar), que com o acréscimo de a (forma no infinitivo a ação do verbo que significa passagem). - segundo o padre Luiz Figueira, em sua Arte de Gramática da Língua Portuguesa: "lugar de onde se vê o mar" ou "miramar", sendo a palavra decomposta nos seguintes vocábulos: parná (mar); apicac (ver); caba (sítio).

 

 

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